O título do livro sugere o seu conteúdo. Contudo, a sugestão é redutora. A narrativa não se circunscreve, ao contrário do que enganosamente possa fazer pensar, à egocêntrica rememoração de experiências que tiveram impacto na evolução pessoal da autora.
É uma história de vida, sem dúvida, mas através dela assistimos à própria evolução dos contextos locais e culturais onde essa história se desenrola.
Descrevem-se, com o rigor e a nostalgia de quem os viveu, os velhos costumes do mundo rural que a modernização tecnológica progressivamente foi fazendo cair em desuso.
Mais resilientes foram os preconceitos obscurantistas que roubaram aos jovens a plenitude da sua espontaneidade.
A autora não lhes escapou. Pior é que grande parte desses preconceitos tinham suporte político, havendo uma polícia especialmente incumbida de perseguir e torturar quem pretendesse ou simplesmente fosse suspeito de pretender combatê-los.
Felizmente, nada resiste à inexorável mudança dos tempos.
No livro, aclama-se a revolução de 25 de Abril de 1974, salientando a instauração da liberdade e as promessas de emancipação dos grupos socialmente desfavorecidos.
Compreensivelmente, a autora valoriza a emancipação da mulher. Dito isto, é altura de terminar, sublinhando que a história que aqui se conta, feita com sensibilidade crítica e amor familiar, mais do que remeter para uma biografia autocentrada, remete para as circunstâncias nas quais o passado foi construindo a pessoa que a autora é.