Acho que falo cada vez menos

ISBN: 9789897824524

Interessam-me duas perguntas. Quem é o louco quando isto acaba? Feitas individualmente, estas perguntas são já repetição. Nado-morto, mais do mesmo. É a sua simultaneidade que me interessa. Quem é o louco quando é a morte. Só isto, porque todo o problema é, tristemente, um inevitável padrão. E isto chega. O resto, é o vosso fim que, sem dúvida, me escapará. Este conjunto de notas é uma pequena rotunda unindo estradas de areia velha, poças de água por abastecer a toque de tempestades vindouras e pó, no seu início ou no seu fim lá no fundo duma barragem dessas que sobem e descem até rebentar (sim, toda a barragem importa enquanto primeiro fim, o acumular, totalidade impermanente, susceptível, a nossa fraqueza insustentável pois que, afinal de contas, falta-nos a experiência de morte, de rebentação, o estoiro, o pum último e primeiro). Mas também isto pouco importa. E os pássaros, as coisinhas. O redor, que nunca mata, mas mói. Berço de dor e enteadas. Em silêncio, que as palavras agora enfadam-me sempre que caiem longe dum alvo que nem sequer existe. Ou que se só às vezes se vislumbra. Fala-se realmente muito sobre nada. É pessoal o alvo, e assim se fossilizará cheio da maleita última que nos corrói em lume brando, disfarçada, o banal. O banal. É por isso que acho que falo cada vez menos.