Aves pálidas
Aves pálidasatravessam-me as pálpebras cerradas
Os jogos da morte seduzem-me pouco
mas estou quase morto
não procuro ravinas donde possa avistar
alguma da transparência ilusória
com que a vida se nos chega ao olhar
Estou denso oblongo
na imobilidade da rocha que arde só para o tempo
Os dias esgotam
Os dias esgotamos seus passos inviáveis
ninguém os segue ninguém move as pálpebras
As aves são pálidas e de extrema leveza
passam
passamcomo uma montanha
passamdemasiado distante
abertura desconhecida,
inclinada para a raiva de suprimir
o possível indilatável — o mito interno
de uma necessidade acrobática:
expelir expelir
toda a noite do cérebro
(o lugar de dentro)
afirmação que tenta sair
como dimensão da raiva de se ser corpo,
— e sai, porém apenas um pouco,
sem um desmoronamento
capaz de sair inteiro
apenas se escoa a última
negação daquilo que me define,
esquivando-se-me de entre os dedos uma voz
já quase sem interrogações
que perdurem
(tanto quereria eu chegar a um extremo de crueldade
— e gritar então, aí, a ausência
que me sufoca,
esta: