Este texto toma como temas centrais aquilo que para o autor constitui um autêntico mistério no processo de desenvolvimento do desporto em Portugal: porque é que a população do país adere de forma tão limitada à sua prática, e porque é que o número de medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos é tão reduzido quando comparado com o grupo de países que podem ser os seus mais directos competidores?
De forma sintética, a situação apresenta-se desta forma: a percentagem da população que pratica, tendo chegado há cerca de 10 anos atrás aos 27%, baixou para os 22% referidos a 2018 pelo Eurobarómetro Especial do Desporto. O primeiro destes valores já colocava Portugal no grupo dos países europeus menos desenvolvidos, e é previsível que o segundo tenha piorado com a epidemia.
Quanto à questão das medalhas, que constitui a preocupação central do Sistema Desportivo Nacional, dos políticos e, de um modo geral, da população e em especial dos média, os atletas portugueses nos Jogos Olímpicos conquistaram 28 medalhas desde 1912, altura da sua 1.ª participação, enquanto os países do tal grupo (Grécia, Finlândia, Noruega, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Suíça, Bulgária e outros), possuem todos para cima das 100 medalhas.
Então o que se passa? Cada um emite a sua opinião, mas generalizadamente considera-se que a responsabilidade maior cabe à escola, e em especial ao desporto escolar, pois a educação física deixou de ser tomada em consideração, pois foi eliminada por pertencer ao “mundo do passado”.
Ora, como bem se sabe, a escola atravessa uma crise profunda provocada pelas consequências de um choque profundo entre concepções educativas, imposto por visões políticas muito diferentes.
Com plena justificação, a presença do desporto dentro da escola, sofre os efeitos dessa crise para viver aquela que lhe é própria.
Que concepções divergentes são essas? Que responsabilidade cabe à escola na resolução da crise da educação física e do desporto escolar? Qual deve ser a função da actividade motora, como instrumento educativo fundamental para o desenvolvimento pleno da Juventude Portuguesa? Que papel deve caber à escola, ao clube desportivo, às federações e à iniciativa privada, na resolução do problema da formação dos campeões? Qual é o efeito que a mercantilização generalizada do desporto tem em todo este processo? Que novas formas deve assumir a formação desportiva da criança, do adolescente e do jovem, de modo a adquirirem o hábito permanente da prática das diferentes actividades, na via da manutenção da vida activa e saudável, ao longo de toda a vida?
Estes são algumas das questões que são abordadas, formulando propostas de reflexão.