Não sei porque escrevo, na verdade são as palavras que se acotovelam enquanto eu apenas assisto ao que elas escrevem por dentro de mim. Acabo por ser um parapeito entre o ali e o aqui, um passaporte para todas as ruas. Entendo-as como a casa, a minha casa branca e negra, de todas as cores, todos os dias.
As casas e as ruas opõem-se. As palavras abraçam e arranham enquanto as ruas parecem cemitérios onde os mortos passeiam, ausentes de si e alheios às palavras. As palavras emudecem nas ruas.
Ele ainda não sabe que está morto, não consegue perceber que todos já morreram e, no entanto, raramente sorri enquanto cruza as pernas, sentado na cadeira da cozinha. Julga-se o auge do frio, a voz assombrada.
Quando lhe perguntei porque recusava a alegria, ele sorriu carregado de loucura e discursou por detrás dos caminhos que nunca percorreu, a utopia e o abraço.