Há algo de espiritual numa noite de campo.
Numa noite de campo não é preciso mapa ou programa detalhado. Não há minutos, nem horários, nem turnos…
Os ruídos e os silêncios combinam-se num jogo de conjeturas e pressentimentos e apenas os sinais dos filhos da noite, importa. Somos nós, ansiosos. Até o sobressalto estaladiço do ramo quebrado ao anonimato de alguma pegada ao longe perdida, se faz próximo, imediato. É assim à noite, em campo, nas longas noites de campo.
No embaraço do dia a desfazer-se nos pedaços que hão de ser a noite, aquela estranha sensação de que sempre nos pertencemos torna-se intensa, inquietante.
Estranho ardor, estranho sabor, suave melancolia. Estranha saudade… das risadas à volta de todos, quando a noite em campo se põe.
Nada se compara, na verdade, a uma longa noite de campo.
Pedro Saraiva