Este III volume é o terceiro em série iniciada em 2020 com o livro [Des]harmonias, e o livro Registos do Tempo que Passa, de 2021, por conta de autor.
É um exercício sincero de comunicação e partilha em descobrir constante de uma nova condição pessoal que me atinge e a seres muito próximos e muito presentes, tão próximos, tão urgentemente próximos, que somos levados a inquirir como é que não nos encontrámos ainda? Como não foi tal possível?
Um exercício que é fazer tábua rasa do temor reverencial e do desnecessário pudor, não a significar desbragada e indecente exposição mas como quem nas trevas procura a luz, a igualar a condição interna com a externa. É a busca da verdade a merecer o consenso, no julgamento dos factos, a fundamentar algo para subsunção de valor. Implica desnudamento, o que pode ser cruel, mas a circunstância e a urgência em assumir a entrega à pessoa já amada e em enfrentar uma coletividade que pode não aceitar o impõe. E imporá sempre, pela natureza do olhar. Pelo que, neste sentido de necessária e inadiável urgência, é bom começar já. Contrariamente ao/à fadista, que nem às paredes confessa, vejo necessidade e urgência em afirmar o que para mim e para a minha outra parte é necessário desde já dizer bem claro. Não é malfazejo e como tal se assume. Honni soit qui mal y pense, ou da necessidade de uma reposição hodierna dos valores de uma Cavalaria que não desprezava o amor cortês.
Para mim, são tão graves os acontecimentos a que estes livros procuram responder, que a questão da culpa não se põe. A culpa, o único instituto canónico aproveitado pelas mais violentas ditaduras do Sec. XX e ainda hoje.
A culpa não se põe, pois o par não falhou. A Mulher bela no meu interesse por ela, no seu comportamento que me salvou (contra a aparência e a manipulação muito violenta que dele foi feito), e no seu terrível sofrimento a levar a questionar a sanidade mental de uma sociedade que autoriza tais desvios, não falhou, nem um pouco. Julgo que, para mais, se culpa dos acontecimentos… Ou seja revela grande formação moral. Quanto a mim, nunca informado e sempre ultrapassado, nunca me tendo sido permitido assumir uma posição que pedi e assumi, não desviei do meu padrão. Apenas fiz o que pude, e procuro continuar.
Repito as referências a Haendel e a Madiba, do II volume. Vivos estamos, vivos prosseguiremos e, se Deus e os homens consentirem, nos reuniremos e seremos felizes pois nos repararemos. Será não o trionfo del tempo i del desinganno, mas o trionfo del tempo i della raggione sull inganno. Pois houve toda uma vontade em acarear, no sentido de provocar um perigoso desespero, que uma racionalidade mínima evitou. É angustiante pois questiona a capacidade perante um desafio permanente, afinal à robustez em termos de saúde, já nem sequer mental, mas tão prosaicamente física. De onde a necessidade em manter a cabeça fria e à tona da água para responder à desinquietação constante. Mais uma vez a resposta é a do otimismo, o mesmo otimismo dos pais e avôs de Bach na longa guerra do S. XVII cujo teatro de operações foi a sua floresta, de Thuringe. Um otimismo animista a personificar a natureza e cada um dos seus elementos e a ter fé na sabedoria de Deus, a inspirar mulheres e homens aptos a captá -lo (uma noção de Cícero na Natureza dos Deuses) e a pautar por Ele a sua vida, como nas Cantatas de Bach. Eventualmente aquela guerra acabou e as famílias de João Sebastião Bach e dos seus contemporâneos viveram com alguma felicidade e alegria.
Estão excluídos suicídio e violência, pois sempre que alguém cai, levanta e continua a andar (Madiba). Até à data não sei de ninguém que podendo reagir, se quedou à beira do caminho. E isto é o otimismo. Eventualmente em condições muito difíceis. Oxalá.