…A minha mãe Maria Ribas, conhecida como o “General”, fazia de tudo um pouco. Ela era o pilar da casa e uma mulher de luta da qual muito me orgulho. A nossa casa era uma espécie de quinta onde nada faltava. Para além de lá vivermos, tinhamos o nosso próprio negócio agregado, uma espécie de charcutaria. Havia trabalho para muita gente. Abatiamos nove porcos por semana, e deles faziamos tudo o que era enchidos, presuntos, bolas de carne transmontanas e afins. Nós viviamos da nossa própria produção, desde o negócio da charcutaria, à agricultura e à venda e consumo da carne dos nossos animais. A minha mãe aproveitava todo e qualquer trabalho que fosse rentável e inclusive colocava-nos a nós, filhos, a trabalhar também. Era muito pouco dada a que o rebanho dela não estivesse sempre sobre o seu controlo. A mim, o que mais me custava, era ter que me levantar às cinco da manhã para fazer os enchidos com as minhas irmãs. Por vezes, a minha irmã Lídia metia uma cunha por mim e dizia ao nosso general: “coitadinha, deixe-a ficar mais um pouco na cama que eu faço a parte dela.” Esta minha irmã tinha mais onze anos do que eu.
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