À Volta do Mundo em 222 Páginas
Uma vez fui viajar e não voltei.
Não por rebeldia ou por ter decidido ficar; simplesmente mudei.
Cruzei fronteiras que eu nunca imaginaria cruzar, nem no mapa nem na vida. Fui tão longe que olhar para trás não era confortante, era motivador.
Conheci o que posso chamar de professores e avaliei conhecimentos que nenhum livro me poderia ensinar. Não por serem secretos, mas por serem vivos.
Acrescentei ao dicionário da minha vida novos significados para os termos educação, medo e respeito.
Reaprendi o valor de alguns gestos como quando se é criança. A espontaneidade de sorrisos e olhares faz valer a comunicação mais universal que há: a linguagem da alma.
Fui acolhido por pessoas, famílias, estranhos, bancos e praças. Entre chãos e humanos, ambos podem ser igualmente frios ou restauradores.
Conheci ruas, estações, aeroportos e orgulho-me de ter dificuldade em lembrar os seus nomes. A minha memória compartilha do meu desejo de querer refrescar-se com novos e velhos ares.
Fiz amigos verdadeiros. Amigos de estrada não sucumbem ao espaço nem ao tempo. Amigos de estrada cruzam distâncias; confrontam os anos. São amizades que transpassam verões e invernos com a certeza de novos encontros.
Vivi além da minha imaginação. Contrariei expectativas e acumulei riquezas imateriais. Permiti ao meu corpo e à minha mente experimentar outros estados de vivência e consciência.
Redescobri o que me fascina. Senti calores no peito e dei espaço para que o meu coração acelerasse mais do que uma qualquer rotina permitiria.
E quer saber?
Conheci outras versões da saudade. Como nós, ela pode ser dura. Mas juro que tem as suas fraquezas. Aliás, ela pode ser linda.