«Serei capaz de te dilatar o olhar
com o estalido de uma chicotada de algas
de encontro ao meu rosto,
— sendo tuas, as algas?
Serei. Posicionado, frente às águas,
pilar de atenção consolidando-se sílaba a sílaba,
promontório de nudez essencial,
cabendo, inteiro, nos ouvidos desta placa de céu alvejado,
— somente então me escutarás a fundo,
pressinto eu.
E serei de uma lonjura evolutiva? Serei
um punhal de quartzo veloz? Sim,
serei o sopro que arborizo
de entre os lábios, (lábios ou mãos, dardos ou ímanes),
desejando, através da torrente irrompida nítida,
que a tua voz se abra
como a pele de um barco em contacto com as águas
que, vaga a vaga, o tenham elaborado
perdurante.
E serei o próprio jorro de plasma
escutado? Sim, sim,
neste barco sou, estalido indissipável de encontro a ti,
(porque as águas vêm de encontro a mim),
um afilado grânulo de saibro
desprendido da proa.
*
Viseiras tiradas, golfadas de luz
bebível até à periferia deste chão. Será, para nós,
o arejamento de vivermos de mãos a mãos no rumor
da foz desaguada . Ambos de um mar
que se abrirá ao silêncio,
— indetível e revolto
de encontro aos nossos corpos
recíprocos.»